"Não tenho outro filho, só tenho ele. O outro, perdi, porque nasceu morto. Esse, Deus me deu e roubaram. Eu só quero achar o meu filhinho. Como pode uma pessoa pegar o filho da outra?", é o que questiona a dona de casa Luana Maria da Silva, de 30 anos, mãe do recém-nascido que desapareceu no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), no bairro dos Coelhos, no Centro do Recife.
Lucas, o bebê, nasceu no dia 4 de abril, aos oito meses de gestação. Luana sofreu de pré-eclâmpsia e, nas duas gestações, teve pressão arterial alta, o que pode causar uma série de problemas para mãe e bebê. Com o risco, os médicos do Imip decidiram fazer uma cesariana de emergência. O bebê estava internado para ganhar peso.
O desaparecimento, segundo a mãe, ocorreu na noite do sábado (20) e o boletim de ocorrência sobre o caso foi registrado na madrugada deste domingo (21).
"A enfermeira que estava no setor disse que não podia ficar no quarto, porque tinha muitas crianças para olhar. Eu só quero que alguém me ajude a encontrar meu filho, por favor. Alguém que esteja vendo esse depoimento, alguma autoridade. Eu não tenho outro filho, já perdi um bebê e tiraram meu filho de mim. Não posso mais ter filhos, eu só tenho esse bebê", diz. Desesperada, Luana não saiu da frente do hospital, desde a noite, buscando notícias do filho. Ela afirma que deixou a criança sob os cuidados de outras mães num dos quartos do Imip para acalmar o marido, que tinha se envolvido numa confusão com os seguranças do hospital.
Quando voltou, ela foi informada pelas outras mulheres que uma senhora, dizendo ser mãe do companheiro de Luana, havia levado a criança, supostamente para se alimentar no banco de leite da maternidade. Foi aí que o drama da família começou, sem notícias sobre o bebê desde então.
"Meu marido estava bêbado e foi espancado pelos seguranças. A mulher levou meu bebezinho na bolsa, dizendo que era avó do meu bebê, mas não era, minha sogra não faria isso. Vi a filmagem e era outra mulher. Disseram que era uma enfermeira que foi dar leite e depois disseram que era a avó. Isso está errado, porque são duas versões", diz a dona de casa.
A reportagem questionou o Imip sobre a divulgação das imagens das câmeras de segurança e o instituto informou que só divulgou a filmagem para a polícia.
A família é de Paudalho, cidade na Zona da Mata Norte de Pernambuco, a 40 quilômetros do Recife. Por isso, o marido de Luana era o único a acompanhá-la durante a semana. Luana reclamou da falta de informações.
"Entraram no quarto e sequestraram meu filho. Ninguém me dá notícias nem fala nada. Nem o boletim de ocorrência eu peguei, está com o pessoal do Imip. O atendimento aqui não é bom, porque não cuidaram do meu filho", afirma.
Mãe de Luana, a agricultora Maria José da Silva saiu de Limoeiro, no Agreste de Pernambuco, neste domingo, quando soube do desaparecimento de neto.
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"Eu soube hoje de manhã. Lucas ia ter alta na quinta-feira. Eu moro muito longe e não podia ficar com ela, mas quando ela ganhou neném, vim logo e ele ficou na incubadora, para ganhar peso. Ela tem pré-eclâmpsia [alta da pressão arterial durante a gravidez] e não pode ter filhos. Da última vez, o bebê nasceu morto, justamente por causa disso. Esse nasceu antes do tempo", afirma a avó.
A dona de casa Lúcia Helena Pereira está internada no Imip com o marido e presenciou a confusão citada por Luana envolvendo o companheiro. "Ele estava com um bolo e uma faca, para partir o alimento para ela. Os guardas falaram coisas e ele, bêbado e aperreado, revidou. Bateram e algemaram ele. Foi aí que ela foi chamada. Quando voltou para lá, o bebê não estava mais", diz.
Desaparecimento
A Polícia Civil trata o caso como um possível sequestro. O boletim de ocorrência sobre o caso, que está sob sigilo, foi registrado na Central de Plantões da Capital (Ceplanc), na Zona Norte da cidade. O Imip informou que forneceu imagens de câmeras de segurança à corporação para ajudar nas investigações.
A unidade afirmou ainda, por meio de nota, que "está dando todo suporte necessário para solucionar o caso".
Fonte: G1