BRASÍLIA - Candidato derrotado à Presidência da República em 2018, Ciro Gomes (PDT) afirmou nesta quinta-feira, ao fazer um balanço dos cem primeiros dias do governo Jair Bolsonaro, que a população não deve aceitar o projeto de autonomia do Banco Central (BC) assinado pelo presidente: "É o caso de a gente ir para a rua quebrar tudo".

Em evento promovido por ele em Brasília, o pedetista disse que o projeto é "entregar para a banca privada" a decisão sobre a taxa de juros e política monetária e que isso será muito danoso para o país, onde cinco bancos públicos e privados são responsáveis por 80% das transações. "Isso é a violenta e definitiva entrega da nação a três bancos", acusou. 

Questionado sobre a incitação à que a população "quebre tudo" contra a proposta, Ciro disse que fez uma metáfora e que foi surpreendido com a informação sobre o projeto, mas que, nos Estados Unidos, as pessoas não ficam passivas quando um negro morre assinado por um policial. Elas vão para as ruas protestar, disse. 

Ciro criticou ainda a proposta de reforma da Previdência do governo Bolsonaro, que na sua opinião será ineficiente e injusta com os mais pobres, além de "ampliar privilégios na aposentadoria" com regras diferenciadas para os militares, o "entreguismo para os interesses internacionais", com a liberação de visto para turistas dos EUA sem contrapartida, o apoio à ação na Venezuela e a venda da Embraer para a Boeing.

Ele também atacou a medida provisória (MP) que será assinada por Bolsonaro para permitir que as famílias ensinem seus filhos em casa em vez de mandá-los para escolas ("homeschooling"). Isso, para Ciro, é "uma aberração muito coerente com quem defende a terra plana". "Se os filhos do [ministro da Justiça, Sergio] Moro forem aprender português em casa, é preciso chamar o conselho tutelar", brincou.

A única ação destacada pelo pedetista como positiva nesses três meses de governo foi a transferência de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) de presídios estaduais em São Paulo e Ceará para presídios federais.

Apesar das críticas, Cito afirmou que é contra o impeachment de Bolsonaro e que crime de responsabilidade não pode ser tratado com leviandade. "Remédio para governo ruim - e eu considero o governo do Bolsonaro mais do que ruim - não é impeachment, é pressão. Pressiona o governo para que ele mude seus rumos", disse.

Para o jurista Miguel Reale Júnior, Bolsonaro já teria incorrido em atos suficientes para justificar um processo por crime de responsabilidade. Ciro discordou: "O jurista Reali Junior, que foi instrumento jurídico para instrumentalizar um golpe contra a Dilma, agora está querendo instrumentalizar um golpe contra o Bolsonaro".

Ele disse que "é uma mentira" que Bolsonaro tenha rompido com o modelo do presidencialismo de coalizão e que tenha deixado de indicar representantes dos partidos políticos para os ministérios com o objetivo de obter apoio no Congresso.

"Ninguém, no mundo, é imune à política. Os partidos políticos são espelho de correntes de opinião. Você acha que o [ex] ministro da Educação, o Vélez, não representa fielmente o partido político que representa o Bolsonaro?", questionou. "Qualquer nação do mundo morreria de vergonha do jeito que foi construído esse governo", disse.

Ciro afirmou que o presidencialismo de coalizão foi uma mentira inventada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) "para aliciamento puro para reeleição e para não ter CPI [Comissões Parlamentares de Inquérito]" e que "nunca foi para fazer reforma nenhuma". "É mentira. O Bolsonaro está conversando com os mesmos partidos e mesmas lideranças, do jeito que sempre foi feito", declarou.

O pedetista lançou um observatório sobre o governo Bolsonaro e fará apresentações sobre os cem primeiros dias também em São Paulo e Rio de Janeiro. Além disso, informou que fará uma avaliação a cada trimestre das ações do governo, reforçando que cabe a oposição "vigiar, cobrar, denunciar as contradições", desejando "sinceramente que ele acerte a mão".

Na palestra, fez uma comparação dos cem dias com dados e gráficos que remetem desde 2012, no governo do PT, com o qual ele busca rivalizar. Ciro afirmou que o país não está saindo da crise econômica, não está gerando empregos e que a execução orçamentária em saúde e segurança pública está abaixo da média do primeiro trimestre de outros anos. "O Brasil está gastando muito menos em segurança do que a retórica oficial do governo propaga", disse.

Ciro lamentou ainda a prisão do ativista Julian Assange, do Wikileaks, nesta quinta-feira, dizendo que é um dia triste para a liberdade de imprensa. "O Assange, por exemplo, é a quem o Brasil deve a informação de que os americanos estavam espionando a presidência da República e a Petrobras no governo Barack Obama", disse.
Ciro diz que autonomia do BC é "caso de ir para a rua quebrar tudo"

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